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Jaime Cimenti

Jaime Cimenti

Publicada em 02 de Maio de 2024 às 20:52

Revolução cultural silenciosa

o colibri

o colibri

AUTÊNTICA CONTEMPORÂNEA/DIVULGAÇÃO/JC
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Jaime Cimenti
Mesmo com a vitória dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial e o predomínio da cultura americana e do american way of life em boa parte do planeta a partir de então, a esquerda radical, em nível global, assumiu o controle de muitas instituições educacionais, culturais e boa parte da mídia e promoveu uma verdadeira revolução cultural silenciosa. O movimento estudantil radical da década de 1960 e o movimento antirracismo que incendiou os EUA em 2020 são marcos dessa revolução.
Mesmo com a vitória dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial e o predomínio da cultura americana e do american way of life em boa parte do planeta a partir de então, a esquerda radical, em nível global, assumiu o controle de muitas instituições educacionais, culturais e boa parte da mídia e promoveu uma verdadeira revolução cultural silenciosa. O movimento estudantil radical da década de 1960 e o movimento antirracismo que incendiou os EUA em 2020 são marcos dessa revolução.
Revolução Cultural Silenciosa (Avis Rara - Faro Editorial, 352 páginas, R$ 55,90, tradução de Carlos Szlak), de Christopher F. Rufo, escritor, cineasta, jornalista e ativista e considerado um dos principais críticos norte-americanos da Teoria Crítica da Raça, mostra como a esquerda radical, com suas teorias e práticas, desenvolveu no Ocidente uma lenta, silenciosa, calma e eficaz revolução cultural, ao contrário do que ocorreu na China, onde a revolução cultural foi rápida e sangrenta.
Rufo traça os perfis de personalidades como Herbert Marcuse, Angela Davis, Paulo Freire e Derrick Bell e mostra como esses ativistas introduziram conceitos, mesclando astutamente marxismo e ideologias igualitárias, para influenciar a cultura. As ideias destes e de outros subverteram o conceito de igualdade de oportunidades, trocando-os pela busca por igualdade de resultados.
Eles enfraqueceram os direitos individuais em favor das identidades de grupos e convenceram milhões da presença endêmica do racismo no Ocidente em todas as esferas sociais e que este é o maior problema em nosso mundo.
Além de revelar a complexa trajetória da revolução cultural, mostrando suas táticas e os fundamentos filosóficos adotados pelos grupos, o autor convida a sair do plano das ideias e buscar uma contrarrevolução, que já se anuncia. O livro é, acima de tudo, uma grande e valiosa escavação das opiniões da esquerda destes últimos 60 anos, que se instalaram silenciosamente na mídia, na burocracia, na educação pública e nas grandes empresas e um convite para responder a isso.
 

lançamentos

Como o mundo funciona (Editora Intrínseca, 400 páginas, R$ 69,90), de Vaclav Smil, escritor e professor emérito da universidade de Manitoba e membro da Royal Society do Canadá, é um guia científico acessível para o passado, o presente e futuro, trazendo ciência, tecnologia e informação, auxiliando a lidarmos com tantos dados e inovações.
Revolucione a relação com seus filhos em 21 dias (Academia-Editora Planeta, 272 páginas, R$ 69,90), de Telma Abrahão, biomédica há mais de vinte anos e especialista em neurociências e desenvolvimento infantil, traz um caminho de transformação para sair do caos e construir uma família emocionalmente saudável.
O colibri (Autêntica Contemporânea, 336 páginas, R$ 55,00), romance de Sandro Veronesi, recebeu o prestigiado prêmio Strega 2020 e traz, em ambientes de Florença e outras cidades italianas, a história de quatro gerações da família Carrera, dos anos 1970 até a atualidade. Veronesi é um dos maiores escritores italianos das últimas décadas e escreveu o elogiado Caos calmo.
 

O primeiro circo ninguém esquece

Ninguém esquece onde viu pela primeira vez a luz do sol, especialmente se foi em Bento Gonçalves, presente de Deus para a humanidade, modéstia às favas. Ninguém esquece a primeira namorada,o primeiro beijo, o primeiro Chicabon e o primeiro circo. Morávamos perto de um grande terreno baldio, em Bento. Hoje ali é a Praça Vico Barbieri.
Tinha dez anos quando surgiram alguns caminhões, trailers e os animais nas jaulas do circo que chegou ali, comandado pelo legendário Capitão Robattini, proprietário do centenário Circo Robattini, hoje em sétima geração.
Eu e amigos fomos ver de perto. O capataz e responsável pela montagem nos pediu água gelada e disse que, se ajudássemos a fixar os mastros, as arquibancadas e levantar as lonas poderíamos entrar de graça na estreia. Topamos. Ajudamos a colocar os mastareis, os mastros centrais, as arquibancadas e lonas. Em poucos dias, tudo pronto. Se fosse hoje eu seria considerado vítima de exploração de trabalho infantil e não teria conseguido o ingresso.
Na noite de estreia o Capitão discursou na casa lotada: "Respeitável público, nesta florescente cidade de Bento Gonçalves, na presença do ilustre prefeito e desta comunidade trabalhadora e senhoritas e senhoras bonitas e elegantes, é uma honra apresentarmos nosso espetáculo. Muito obrigado pela presença. Nossos animais precisam se alimentar. Se alguém tiver cavalo velho, burro velho, cachorro velho, mulher velha ou marido velho pode trazer, que nossos bichos apreciarão muito. Eles precisam estar em forma para lindas apresentações", disse, brincando, no tempo de circo com animais.
O circo era muito bom, à altura de Bento, e tinha elefante, tigre, leão, zebra, cavalo e cachorros que jogaram, fardados, um Gre-Nal com balões e goleiras. Anos depois assisti o grande circo Orlando Orfei, o Vostok, o Cirque du Soleil e o Circo Imperial da China, entre outros, mas nunca esqueci do Circo Robattini, que tinha globo da morte, trapezistas, homem-bala, equilibristas, malabaristas, mágicos e um leão já velhinho, costelas à mostra, que rugia rouco ao som das chicotadas que o Capitão Robatini, o domador, dava no chão da jaula para despertá-lo.
O elefante era o rei da festa, que tinha palhaços sorridentes e engraçados, ao estilo brasileiro, entremeando as atrações. Sempre gostei de palhaços e não gostei de ver num espetáculo do Cirque de Soleil a morte do palhaço. O palhaço é quem mais alegra e faz sorrir as crianças, que são a maior razão de ser de uma arte de quatro mil anos, que em Roma tinha espetáculos para 150 mil pessoas.
Alguns apocalípticos desavisados dizem que o circo está morrendo. Eles dizem também que o teatro, o livro, o cinema e a música estão morrendo. Só não morrem eles, os arautos do fim do mundo e de tudo o que não termina .
O Circo Robattini fez sucesso, ficou bom tempo em Bento. Ficamos tristes com o terreno vazio. Ali havia fogueiras e festas de São João e campinho de futebol.
 

A propósito

Sim, eu sei que talvez devesse falar nos pães e nos infelizes circos ditatoriais que andam nos intoxicando digitalmente nas redes. Outro dia falo. Pão e circo, Panis et Circensis surgiu em Roma para manipular e divertir as massas, que nem sempre exigem biscoitos finos. A coisa segue. Por hoje preferi o olhar e a lembrança do menino, que é pai do homem, como disse o poeta. Menino-idoso sensível e teimoso que insiste em pensar que os sonhos de infância é que importam mais, mesmo quando censuram os palhaços, o elenco todo e a plateia. (Jaime Cimenti)
 

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